
Nosso anti-herói enfrentou inúmeros desafios durante todo este tempo, dentro e fora da série. As quatro primeiras temporadas foram deliciosas de se ver, tivemos o Ice Truck Killer, seu próprio irmão; a sedutora e incendiária Lila West; o homem da lei Miguel Prado que acabou na mesa de Dexter antes do fim da terceira temporada; Arthur Mitchell, o grande Trinity, vilão marcante da série que conseguiu levar Dexter ao extremo e ainda tirou dele alguém insubstituível. A partir daí os desafios começam a decair com o Chase, o fraquíssimo Chase; o maluco do Travis Marschall, o fanático religioso conhecido como The Doomsday Killer; e Isaak Sirko, aqueeele da sétima temporada a qual só é lembrada por causa da Hannah. Vimos uma série se sustentar pelo carisma de seu protagonista e a competência de sua companheira de tela, apesar das falhas de roteiro.
Pois bem, o fim desta saga se deu no último domingo, dia 22 de setembro de 2013. Uma data marcada pelo luto. Luto pelo fim da série, luto pela morte dos personagens, luto pelo encerramento de uma relação que durou 8 anos. As opiniões se dividem, mas o sentimento de perda é o mesmo.
Enfim, tivemos o último capítulo desta última temporada de Dexter. Juro que dei tooodas as chances possíveis a esta temporada na esperança de um final a altura da mitologia criada pela série. Neste último episódio tivemos o desfecho de toda essa história de neurocirurgião, fuga para Argentina, vida nova, cura e tudo mais. Na verdade, foi um episódio praticamente sem ação, mas com uma carga psicológica muito grande. A filosofia contida em cada diálogo, cada tomada foi levando os fãs, que formavam homogeneamente um grupo descontente com os rumos da temporada final, a se dividirem entre os que odiaram, os que amaram e os satisfeitos.
Dexter recebe um telefonema a cerca do quadro clínico de Debra que foi baleada, neste momento ele decide voltar e terminar o que começou. Deb parece ótima após a cirurgia, é aquele momento em que a despedida definitiva está na cara mas ninguém quer ver. Achei óbvio porque era justamente isso que eu queria para Debra. Entende-se agora o porquê daquela agonia toda em reaproximar ela de Quinn, para que o plot tivesse uma carga dramática maior e fosse mais doloroso dizer adeus. Vale mencionar que as lembranças do nascimento de Harrison nos leva a dar de cara com aquele serial killer com rostinho de anjo e frases de duplo sentido que nós aprendemos a amar a muito tempo atrás, foi bom.
Enquanto isso a irrelevante Hannah consegue uma rota alternativa para chegar à Argentina levando o Harrison consigo, mas dá de cara com o idiota do Elway dentro do ônibus. Claro que Hannah dá um jeitinho rápido de se livrar dele e agradecemos por não perdermos mais tempo com ela.
O encontro com o neurocirurgião é também conduzido de forma rápida e definitiva. O meu desagrado é pelo desfecho deste plot. Lógico que o personagem já tinha se esgotado e seu fim foi mais que merecido, mas a cena de sua morte me decepcionou por motivos que nem sei explicar direito. Tinha realmente que ser degradante como uma canetada na jugular e uma morte sem muito alarido, até porque o personagem não merece, mas a encenação de autodefesa não me agradou. Eu sei que o instinto dele é se safar sempre, mas esperei uma digna confissão. Por outro lado, se ele tivesse confessado não teríamos a conclusão preparada com todo ‘carinho’ pelos roteiristas.
A bomba do episódio é Debra Morgan em seu estado vegetativo devido a complicações pós-cirurgia. Com danos irreversíveis, ela não tem chances de recuperação. Vemos em mais um flashback o diálogo título do episódio. Não se lembra dos monstros? Mais uma cena que impõe uma carga emocional, mais uma tentativa dos roteiristas de envolver os fãs no drama do desfecho. Dexter, em sua visão distorcida, decide dar a irmã o que ela pediria se soubesse o que lhe aconteceria. É bem provável que ela preferisse a morte a viver naquele estado, então ele desliga os aparelhos e assiste sua morte com a devida frieza esperada do novo Dexter. Seus pensamentos são previsíveis para quem conhece a personalidade do serial killer e nos deparamos com Dexter, o Slice of Life, o corpo de Deb, o mar e a tempestade. Um adeus sem palavras, o corpo de Deb afunda no oceano e ele parte ao encontro do furacão. Que final filosoficamente perfeito para um psicopata ‘curado’ que, na sacada de seu apartamento, conversando consigo mesmo disse: “Por muito tempo, tudo o que eu queria era ser como as outras pessoas, sentir o que elas sentiam. Mas agora que sinto, só quero que pare.”
Mas não. Quando os fãs se preparam para chorar a morte dele, damos de cara com um Dexter a la Clark Kent em Man of Steel transportando toras de madeira e vivendo no anonimato de um instinto recém despertado.
Não foi desagradável, foi no mínimo irrelevante e desnecessário. Vimos o fim da série sobre o seria killer de fala mansa e carinha de anjo na quarta temporada. A partir daí acompanhamos o desenvolver de uma série mutante que teve a series finale que merecia. Digo ainda que nem a morte da Deb deu o impacto que a temporada precisava para se tornar inesquecível. Na verdade, eu particularmente torcia pela morte dela. Concordo com a visão da Jennifer Carpenter quanto a não conseguir viver com sua própria consciência.
Depois de tudo, Hannah, uma personagem surpreendentemente complexa na sétima temporada é despersonalizada e preparada a temporada todinha para ser uma mãe adotiva, na ‘maldita’ Argentina e as pessoas de Miami vão viver suas vidas alheias.
Não me decepcionei com a series finale em si, fiquei até satisfeita. Meu descontentamento é com toda a temporada porque achei que seria a temporada do julgamento, que Dexter iria enfrentar a descoberta de todos os seus delitos. Seria justiça ou morte, dentro de uma trama bem escrita e desenvolvida, mas surpreendentemente não há consequências ‘legais’ para Dexter. E todas as regras quebradas e todos os corpos que ele desovou no mar? E sobre todas as pessoas que ele machucou? Não existe resposta para essas questões, apenas um fim filosófico para uma temporada fraca, ao menos o serial killer passa a viver sozinho com seus arrependimentos, ou não.
Obrigada por ter acompanhado minhas reviews. Meu trabalho termina com a série e tenho os olhos marejados de emoção, espero a oportunidade de voltar a escrever sobre uma série tão mitológica e amada como Dexter.
24 de setembro de 2013 em Manicômio Séries
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