sábado, 3 de novembro de 2012

Gonzaga de Pai Para Filho


Como demorei a escrever sobre esse filme! Não por preguiça ou desinteresse, foi mesmo medo pela falta de palavras para descrever o que vi na sala de cinema na última Quarta Feira 31/10. Como não as encontrei até hoje, resolvi fazer minha humilde review, com minhas humildes palavras para descrever tão grande obra.

Sinopse

Produção que nos permite invadir a intimidade de pai e filho, uma viagem ao passado sofrido de Luíz Gonzaga e sua ascensão musical. Decidido a mudar seu destino, Gonzaga saiu de casa muito jovem. Na cidade grande ele serviu o exército, fez show de rua e casou-se. Após o nascimento do filho, sua esposa contraiu TB vindo a falecer e Gonzaga decidiu enfrentar a estrada para garantir o sustento de seu filho que foi deixado com um casal de amigos no Rio de Janeiro. A distância entre pai e filho cresceu com o passar do tempo trazendo complicações à relação e foi potencializada pelas personalidades fortes de ambos. Baseada em conversas realizadas entre pai e filho, essa é a linda história do cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga e de seu filho Gonzaguinha. Uma emocionante viagem ao passado no sertão do Pernambuco.

Geral

Para entender, só no superficial, o filme surgiu da audição de uma pilha de fitas cassete que registraram as conversas de pai e filho, gravadas por Gonzaguinha numa espécie de acerto de contas. Cheio de momentos épicos das carreiras de ambos, o filme vai desembuchando essa trajetória de vida norteada pela música nordestina e popular brasileira. Estão registrados: o primeiro amor, a luta contra o preconceito sócio-racial, a paixão adulta, o sonho de ter um filho ‘doutor’, o preenchimento de espaços, o conflito de personalidades fortes e o desejo de ter um pai. Tudo acompanhado pela afinadíssima música nordestina. Além de muito som pra ninguém botar defeito, a produção também tem imagens lindas e fidedignas, um excelente trabalho de reconstituição de época e um elenco de desconhecidos de tirar o chapéu de couro! Rsrsrs. 

Destaque para Júlio Andrade no papel de Gonzaguinha (adulto) e Adélio Lima no papel de Gonzaga pai (adulto) que demonstram uma química - pai e filho - incrível nas conversas tensas de acerto de contas. 



Temos também o Chambinho do Arcodeon que interpreta o grande Lula na fase jovem, dando um show de desenvoltura e talento. Realmente surpreendente por não ser ator e deu conta do recado de sobra. 

Land Vieira faz às vezes do Gonzagão na adolescência, é ele que se responsabiliza em sofrer as duras do preconceito, da pobreza e da coragem de sair de casa e se alistar no exército, ótimo trabalho. 



Seu Januário ganhou um ar cômico e familiar na pele do Cláudio Jaborandi. Um pai de família que lembrou por demais meu avô, homem simples, de jargões bem nordestinos e atitudes hilárias, um mito digno de todo respeito! 

Mas minha admiração e paixão instantânea foi pelo Alison Santos, nosso pequeno Gonzaguinha. Interpretando com maestria o papel mais intenso da produção, a criança sem identidade, sem mãe e de pai ausente, sem rumo. Um peito cheio de dor e frustração, uma carência contida, um vazio dolorido demonstrado através dos olhos revoltosos e das tentativas em vão de conter as lágrimas. 
A sutileza de suas pequenas expressões mesmo nas cenas em que não era destaque leva a plateia mais atenta a experimentar um misto de sentimentos inexplicável, aquele tipo de sensação de revolta e desconforto que explode em lágrimas quando os dois se resolvem ao fim da discussão.

Breno Silveira, o mesmo diretor de 2 Filhos de Francisco, repete a fórmula biográfica em Gonzaga de Pai Para Filho, mostrando a dureza da sobrevivência de um pobre talentoso que venceu na vida. As falhas na produção não comprometem o sucesso do filme que tempera todo o drama com pitadas de humor valiosas e proporciona um vai e vem de risos e lágrimas delicioso.

Impressão

Não tenho palavras, como já disse, para descrever a emoção sentida ao ver esse filme. Saí pensando assim: ‘E tem gente que reclama da vidinha mais ou menos que leva; uma blasfêmia!’

Uma produção brasileira digna, sem enganações, sem apelação, sem marcas digitais... Apenas a verdade...

Cópia? Clichê? Com lacunas? Não respondeu o que você queria? É cinema real, é biografia, é Brasil! 
Se muitas histórias de sucesso começam com pobreza e sofrimento, não posso esperar que a magia do cinema mude a realidade... 
As lacunas existem, em tudo e em todos. Pai e filho faleceram com esse vazio no peito que não foi respondido, foi preenchido pela paz do perdão. 

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Obg! Mas cuido do blog sozinha :D
      Não tem como não se inspirar ao ver tão belo filme!

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